Vilma Reis fala sobre arrogância da direita no 7 de Setembro e na vida política e social do país
Participação da candidata a Deputada Federal (PT-BA), no programa ‘Fórum Café’ de quinta-feira (08/09), ganhou elogios e adesões no chat, ao vivo
Para iniciar o debate, o mediador Mauro Lopes, do Programa Fórum Café, transmitido ao vivo no canal do youtube da Revista Fórum, trouxe a expressão ‘princesa’, usada pelo presidente Jair Bolsonaro na solenidade do 7 de Setembro. “Desde o primeiro debate dos presidenciáveis, temos visto esse tom de arrogância, um desequilíbrio absoluto de Bolsonaro. Quanto mais as pesquisas dizem que as mulheres não votam nele, mais ele vem pra cima de nós, mulheres, como se ele não pudesse ser contestado, e com esse grau de virulência”, afirmou a candidata a Deputada Federal pelo Partido dos Trabalhadores (PT-BA) Vilma Reis, que dividiu a bancada com a coordenadora Nacional do Sinasefe (Sindicato dos Servidores Federais da Educação Básica Profissional), Elenira Vieira.
Essa idealização da princesa traz uma contraposição, de acordo com Mauro Lopes, a da bruxa que, ao contrário da princesa tem que ser queimada como o presidente tem feito com as jornalistas desde o início de sua gestão. Ele disse que o termo princesa traduzia o lugar do qual ele (Bolsonaro) enxerga a mulher e, segundo Mauro, evidentemente referindo-se à mulher dele, Michele. “As bruxas sempre foram temidas e os movimentos feministas têm uma frase célebre que diz: ‘Nós somos as filhas e netas das bruxas que não foram queimadas’”, lembrou Vilma Reis.
A candidata do PT, que participa semanalmente do Fórum Café, continuou: “Ontem, vimos mais uma vez um espetáculo de horrores protagonizado por aquele senhor, que é um inquilino na Presidência da República. Por esse cidadão que nos envergonha profundamente, para dentro do país, independente do horror que é para fora. Mas é deseducadora a postura e a existência desse presidente da República. Portanto, na sociedade brasileira, há uma decisão de mudança”, disse.
“Mas a gente analisa o que foi esse uso da máquina pública e os desdobramentos nos estados. Eles tentando atrasar a saída dos movimentos sociais para tentar esvaziar as ruas, para que passássemos nas ruas vazias. Como houve um monopólio de colocar aqueles praticáveis e assim a gente não poder atravessar. O clima foi muito tenso. Acho importante falar sobre isso porque é uma usurpação de um ato da sociedade brasileira, de uma forma que nunca mais tínhamos visto desse jeito e tão violenta a presença militar nas ruas. Deveria ser um momento do desfile deles, depois os movimentos passam, o Grito dos Excluídos. Mas não foi assim que se deu. Foi uma tentativa de esvaziamento, mantendo os praticáveis, depois fazendo com que a população fosse embora sem ver o desfile das esquerdas com todos os movimentos sociais”, contou sobre a marcha reivindicatória, já tradicional, da sociedade civil, no 7 de Setembro, conhecida como ‘Grito dos Excluídos’.
Sobre a solenidade oficial do 7 de Setembro, Elenira Vieira disse que tentou, em vários lugares, alertar as pessoas da esquerda que estavam numa expectativa de que não tivesse ninguém nas ruas. “E eu dizia: ‘pessoal’, vai ter gente’. Eles estão apostando nisso há muito tempo. Não tinha a quantidade de gente que ele queria, mas tinha o suficiente para ele fazer aquela mentirada do datapovo e dizer ‘olha, aqui está o povo’. Ontem, até fiz uma postagem, dizendo ‘quem leva o povo para a rua sem usar a máquina pública, sem se apropriar de data cívica do país, sem esse tipo de subterfúgio é o Lula’. A Paulista, por exemplo, não estava cheia. Tinha gente por toda a avenida, mas não estava cheia. Estatisticamente, cheia significa cinco pessoas por metro quadrado, tipo Rock’in Rio. E se tiver isso por uma extensão muito grande, aí é multidão, tipo Teresina. Nem quando Bolsonaro estava discursando, as pessoas estavam aglomeradas.
“Por outro lado, eles não fizeram um único movimento sequer no sentido da violência, o que quer dizer, na minha leitura, que o bolsonarismo, a burguesia, está achando que é melhor apostar na eleição do que em outro processo. Cometeram crimes como a apropriação eleitoral, o uso da máquina pública, mas a expectativa de poder está muito baixa em relação a Bolsonaro. A figura dele não agrega mais a expectativa de poder”, analisou Vieira.
Harmonia na diferença - Na sequência, Mauro Lopes exibiu um vídeo que viralizou nas redes sociais, incluindo o perfil de Boulos, em que jovens com camisas dos candidatos da esquerda e da direita dançavam juntas ao som do jingle do candidato Jerônimo Rodrigues (PT-BA).
“É a cultura, Mauro. As pessoas são parte dessa cultura e elas não vão romper, ter uma amnesia cultural, por conta dessa situação em que estamos jogadas/os. Muitas vezes, a única forma de trabalho, às vezes aguardada a cada dois anos, para muita gente, são as eleições. As meninas estão ali, talvez até se conheçam, provavelmente são da mesma comunidade, porque havia uma interação tão intensa entre elas, e a moça que parece ser a líder do grupo, passa para o outro lado com muita naturalidade. É a cultura. As pessoas podem estar ali, sendo travadas. Isso diz muito dessa juventude que vai votar no Lula. Achei bacana o que Jerônimo comentou à noite, no Twitter: ‘A nossa música é contagiante e envolve todo mundo’”, afirmou.
Quanto à campanha na Bahia, Vilma Reis respondeu ao questionamento de Mauro Lopes, dizendo que “já deu virada. Na Bahia, a gente está acostumada a disputar as eleições com o coração desse jeito. Há quatro eleições que a direita vem na arrogância de sempre, cantando vitória, passando por cima da oposição, tentando nos atropelar e, depois, são tão convencidos que passam por cima deles mesmos. Vão deixando os próprios aliados pela estrada. Mas a Bahia já percebeu que esse grupo que está aí, se arvorando de que teria governado Salvador com tanta eficiência e agora vai levar isso para o Estado, esse povo do DEM (Partido Democratas), que é adversário dos quilombolas e das cotas, e que se juntou com o PSL (Partido Social Liberal), que elegeu Bolsonaro. Agora, a grande máxima é ACM (Antônio Carlos Magalhães Neto) esconder que é aliado de Bolsonaro. Olha que esforço incrível, esconder que é branco e aliado de Bolsonaro. Mas ele está passando todas essas vergonhas. E a população sacou isso porque não é possível enganar o povo. Eles usaram toda sorte de fake news em 2018, muitos se esconderam, mas quando você tem um candidato que diz: ‘tanto faz quem ganhar’, isso é uma derrota. Porque num país em que Bolsonaro destruiu o Brasil e eles são uma máquina de ataque aos direitos, não podemos ter um ‘candidato tanto faz’, afirmou.
Vilma Reis acusou o grupo de ACM de governar para eles próprios e atropelar qualquer outro grupo. “Então, a Bahia não quer esse tipo de proposição, esse tipo de política. Quando a gente olha o que aconteceu em Salvador, onde uma mulher negra, empobrecida, periférica, buscando uma vaga de creche para sua criança, tendo que entrar num vergonhoso sorteio para conseguir matricular uma criança numa creche, é esse modelo que coloca as mães e avós desesperadas, desde o mês de dezembro? É um modelo de destruição”, explicou sobre a gestão municipal do candidato do DEM.
E continuou a denúncia: “Quando começou a pandemia no Brasil, a cobertura de saúde em Salvador, que tem gestão plena, vergonhosamente era de 37%. As unidades de saúde estavam ocas. Não tinha nem remédio para verminose. Essa aí é a gestão da direita. Não tem eficiência. A direita odeia políticas públicas. E o DEM, hoje União Brasil, apoiou a PEC 95, que congelou por 20 anos os investimentos em educação, saúde e nas políticas sociais mais importantes. Há uma criminosa destruição e cancelamento do Bolsa Família. Salvador tinha 427 mil mulheres no programa. Depois, na renovação, no Comércio, Centro Antigo de Salvador, filas que começavam na madrugada. Depois, pra esconder as filas, foi espalhado pelas chamadas Prefeituras Bairro. É criminoso. Então, isso não pode ser avaliado como uma gestão bem-sucedida. E isso é a direita na Bahia. Por isso, a gente sabe que o povo avalia e o povo vota em Jerônimo”, completou.
Voltando a falar sobre o 7 de Setembro, Vilma Reis disse que a independência, a democracia, os marcos históricos, nunca foram pauta para Bolsonaro. E esse marco histórico dos 200 anos (da independência) muito menos. Eles transformaram o dia num grande palanque e, com isso, ele quebra a liturgia do cargo de presidente da República”, acusou.
Ataque a jornalistas – a candidata do PT-BA elogiou a fala de Mauro Lopes sobre a importância de distinguir as/os trabalhadoras/es da mídia coorporativa dos donos desses meios. Vilma Reis afirmou que há muito embate interno nos veículos, na disputa editorial, em que alguns profissionais brigam pelo privilégio da notícia, do fato jornalístico, em detrimento de interesses econômicos e políticos. “E tem gente, Mauro, como a própria Míriam Leitão, que está vivendo uma virada dela mesma”, declarou e disse: “E foi importante essa questão com Amanda Klein (jornalista da Rede TV recentemente agredida pelo presidente), porque isso foi no coração do bolsonarismo, para além do enfrentamento com Bolsonaro.
“Sem falar de vera Magalhães, Amanda Klein, Míriam Leitão”, continuou a socióloga. Esses episódios têm um teor violento de misoginia e a força do patriarcado e não podemos deixar que essas questões anulem a violência que se tem de como se trata um homem jornalista de direita e como se trata essas mulheres. Há uma guerra contra essas mulheres que estão nas redações, elas tendo posturas avançadas ou atrasadas. Portanto, achei fundamental essa sua fala, Mauro”, declarou.
“Então, temos possibilidades, como nos disse Mano Brown e Os Racionais, de ‘entrar também por lá e, às vezes, a gente entra pela escrita e pela fala”, continuou Vilma Reis. Que dizer, a indignação da jornalista Andreia Sady, diante da misoginia de Bolsonaro, diante do escárnio. E foi aí que a companheira Lenira falou que até a própria Michele (Bolsonaro) teve que evidenciar a agressão que estava vivendo ontem, com aquele beijo. Então, Mauro, o cara está perdendo e abriu uma guerra contra as mulheres. Ele só tinha aí, uma margem de 23% e só despenca. E essa eleição será decidida por todas/os vilipendiadas/os do país: as mulheres, negras e negros, nossas irmãs parentes indígenas, a juventude vilipendiada e assassinada, destruída nas comunidades. Nosso clamor é para a juventude que fez os títulos. Somos nós, as comunidades quilombolas”, completou.
Reação popular – Vilma Reis contou que viajou para a Chapada Diamantina, percorrendo 650 quilômetros pelos municípios de Livramento de Nossa Senhora, Rio de Contas, Seabra, onde constatou o que chamou de ‘rebelião contra Bolsonaro’. “Efeito da destruição e do ataque covarde dele contra as comunidades quilombolas no país; contra os povos indígenas; contra os direitos das trabalhadoras e dos trabalhadores da pesca artesanal do país”, afirmou.
Ela lembrou que Jerônimo Rodrigues (candidato a governador pelo PT-BA) é responsável pela construção de políticas para a agricultura familiar e disse que há um levante do povo nos territórios. “O 13 mora no coração do nosso povo”, completou. “A pessoa, às vezes, está ali, oprimida, porque tem o patrão dizendo ‘voce vai votar é...’, o baronato dizendo que é pra votar no cara, e a pessoa vai até agente e diz ‘olha, a gente aqui é Lula, viu!...’. A gente tem que garantir a vitória e Lula não pode chegar sozinho em Brasília. Ele precisa ter maioria no Congresso Nacional”, afirmou.
Corroborando com a fala de Vilma Reis, Mauro Lopes mostrou uma imagem publicada na coluna do jornalista do site da Metrópolis, Guilherme Amado, com a legenda ‘empresa de bolsonarista (radical assumido) obriga funcionários a usarem camisa pró governo’. “A gente viu isso em 2018, com Luciano Hank, em cenário político diferente, e hoje está aqui”, lembrou Lopes, retomando a leitura do texto de Amado: ‘Funcionários de transportadora afirmam que foram obrigados a vestir camisas verde e amarela de apoio ao governo, com a frase ‘meu partido é o Brasil’, e a postar em suas redes sociais’. São empregados da Transportes Bertolini, de Bento Gonçalves – RS. Em seguida, Mauro Lopes exibiu um vídeo em que a latifundiária Roseline Dagostin Lins, plantadora de soja no Oeste da Bahia, líder da chamada ‘Sociedade Rural’, do agronegócio, em Barreiras, ameaça pequenos produtores que votarem no PT.
“Mauro, estamos falando de uma região que a gente chama de ‘o velho oeste’, onde muitas terras da agricultura familiar, em que as pessoas viviam em suas roças antes dessa fronteira da soja”, informou Vilma Reis. A candidata contou de uma audiência que realizou no local em 2018, quando era ouvidora geral da Defensoria Pública do Estado, em que agricultores familiares tiveram que sair escondidos embaixo de lona de caminhão para chegar na reunião, em que denunciaram o terrorismo imposto por latifundiários para se apropriarem de suas terras. “Foi lá que teve a ‘Operação Faroeste’ e o desmonte do horror de venda de sentenças judiciais. Foi de lá que eclodiu a questão que levou presidência do Tribunal de Justiça (da Bahia) para a prisão, por usurpar as terras de pequenos produtores”, disse. “A gente está falando de uma situação de terror”, denunciou.
“Agora estamos aqui para dizer a essa senhora a frase de Glauber Rocha: ‘mais fortes são as forças do povo’, que está decidido a votar e eleger Luiz Inácio Lula da Silva. De, na Bahia, enfrentarmos a brutalidade no campo, elegendo Jerônimo Rodrigues. É isso que pra’gente decide e o povão é maioria, o nosso povo da agroecologia”, completou a candidata.
Vilma Reis destacou também o assassinato de dois jovens indígenas no município de Prado, na mesma semana. “Há uma comoção na região, porque ali também (Sul do Estado), a brutalidade do agronegócio quer usurpar as terras indígenas. E tem uma juventude indígena mobilizada contra essa violência. E no Oeste da Bahia, nós não vamos baixar a cabeça. Eles estão dizendo que é uma questão de sobrevivência. É uma minoria milionária, que não quer perder nenhum dos seus privilégios. Terão que cumprir a lei do Estado brasileiro, porque o voto de uma milionária tem o mesmo valor, o mesmo peso que o voto de uma trabalhadora rural. E isso, a arrogância do agronegócio não pode mudar”, concluiu.