top of page

Quilombos rurais e urbanos recebem acandidata Vilma Reis na Chapada Diamantina

Passagem pelo território foi marcada pelo apoio à candidatura e pela vontade de

recondução de um mandato federal direcionado aos interesses da população negra


“Quando você aprende a ser quilombola não tem quem tire isso de você”, afirmou a socióloga Vilma Reis, em visita ao território da Chapada Diamantina nos dias 03 e 04 de setembro. Ela falava do fortalecimento de que as pessoas se revestem ao compreender e incorporar sua identidade quilombola, seu pertencimento, ancestralidade e resistência. A candidata a Deputada Federal pelo Partido dos Trabalhadores (PT-BA) percorreu comunidades dos municípios de Seabra, Boninal, Rio de Contas e Livramento de Nossa Senhora, no campo e na cidade, para falar da importância de resgatar a representação dos interesses da população negra no Congresso Nacional.


Em Quilombo do Agreste, um dos 12 de Seabra, dona Carmelice Rosa da Silva liderou uma comitiva que representou as 110 famílias da comunidade, que vive do cultivo de fumo e da agricultura de subsistência. Na visita, Vilma Reis conheceu a unidade produtiva para beneficiamento de derivados da mandioca cultivada na roça coletiva das mulheres. A ação tem suporte do ‘Projeto Bahia Produtiva’, da CAR (Companhia de Desenvolvimento e Ação Regional), e está sendo tocada pela Associação Comunitária Quilombola Amigos do Agreste, presidida por Valdenice Rosa da Silva.


“Aqui, onde um pisa, todos pisam, porque a gente quer o bem do nosso povo", declarou seu Daniel Januário da Silva, explicando a unidade dos quilombolas no seu povoado. Já o presidente da Associação do Quilombo Serra do Queimadão, José Assis, na Comunidade de mesmo nome, ainda em Seabra, organizou uma reunião em que declarou: “Os da minha geração não sabem ler e escrever por causa dos que governavam na época em que a gente era criança. Mas hoje, podemos ter nossos representantes que brigam por nós”.


Vilma Reis destacou que há mais de 15 anos atua em Seabra. Primeiro, como professora do campus 23 da Uneb (Universidade do Estado da Bahia), onde interferiu em situações de segregação e em favor dos quilombolas e, depois, a partir de outros cargos públicos que assumiu, como o de ouvidora geral da Defensoria Pública do Estado. Ela falou também sobre o efeito da Sepromi (Secretaria de Promoção da Igualdade do Estado) na vida da população negra baiana, órgão instituído na primeira gestão do governo Jaques Wagner (PT-BA) por interferência do Coletivo 2 de Julho, tendência que ela integra dentro do PT, hoje denominada Quilombo Socialista.


A candidata destacou que a experiência positiva da presença negra no executivo estadual e federal, e no legislativo federal, a estimula e move a ser a nova representante do segmento no Congresso Nacional. “Para nós, população negra, nunca teve nada fácil. Se a gente acreditar em nós mesmas, a gente vira o jogo”, afirmou. A candidata denunciou: “Vamos restabelecer esse mandato quilombola para esse território, onde mora seu João Cosme dos Santos, de 106 anos, que não consegue medir a glicemia, nem fazer qualquer outro procedimento médico no Posto de Saúde ao lado de sua casa, simplesmente pelo descaso da gestão municipal”.


Exemplo internacional - Na ocasião, Luiz Alberto Santos destacou como avanço importante a iniciativa do Chile, que está realizando um plebiscito para a constituinte nacional, em que estão sendo propostas a paridade de gênero (igualdade de participação de homens e mulheres em todos os espaços), e que o país seja reconhecido como uma sociedade plurinacional, ou seja, reconheça as diversidades que o constituem. Segundo o ex-deputado, responsável pelo direcionamento de políticas públicas para as comunidades quilombolas por quatro mandatos (16 anos), o Chile avança constitucionalmente em algo que caminha a passos lentos no Brasil há séculos.


“Precisamos eleger Lula e Gerônimo para avançar as nossas conquistas e eleger Vilma Reis para reconduzir os nossos projetos na Câmara dos Deputados”, declarou Luiz Alberto, alegando que “se não agirmos assim, ficamos sem alguém que fale por nós em Brasília”. Ele completou, dizendo que “temos que fazer isso, do mesmo jeito que, para estarmos aqui, nossos antepassados seguraram a onda”. Luiz Alberto contou que também é quilombola, da Fazenda Ribeira, no município de Maragogipe, para falar da importância de votar em candidatas/os negras e negros. E repetiu: “Não basta eleger só Lula. Devemos eleger Vilma Reis para fortalecer as nossas pautas no Congresso”.

Boninal - A parada em Boninal foi para recarregar energias com as bênçãos de seu Jaime Cupertino, 80 anos, liderança que, junto com o irmão, Júlio Cupertino, fez os primeiros movimentos pela organização dos quilombolas locais. A trajetória deles pode ser conferida no documentário premiado internacionalmente Terras que libertam - histórias dos Cupertinos, do geógrafo Diosmar Filho. Seu Jaime se emocionou com a presença das pessoas na sala de sua casa e disse da felicidade de estar cercado por gente que ele sabe que luta pela mesma causa que ele vem lutando toda a vida.


Rio de Contas - Já em Rio de Contas, Lindaura Tereza Nascimento Silva, da Associação de Resistência Negra e Quilombola de Rio de Contas, declarou que decidiu votar em mulheres negras e que por isso estava ali, naquele encontro com Vilma Reis no clube social do município. “Nunca ouvi ninguém falar com tanta clareza sobre a nossa passividade. E isso me fez ver a necessidade de fazermos um congresso forte”, declarou Lili Dourado, após o pronunciamento da candidata. Dinha Novaes, por sua vez, foi precisa em afirmar: “Estou aqui para ajudar a colocar o país no lugar". O jornalista Gustavo Medeiros disse que é preciso fazer autoanálise e reconhecer aonde cada uma, cada um deve e pode contribuir para tirar o país do vazio em que o atual governo o colocou.


Para o ex-vereador do município pelo PT, José Wanderley Cardoso Dantas, Rio de Contas é uma das cidades baianas que manteve a resistência durante a ditadura e hoje, ainda é preciso permanecer na luta para resgatar a soberania do país. “As instituições democráticas estão correndo muito risco”, declarou. Já a cineasta Glaucia Soares declarou ter sido atraída para a reunião porque compreende a necessidade de eleger um congresso “melhor e mais forte”. Ela criticou a proposta de militarização das escolas públicas, afirmando que esse modelo de unidade escolar é arcaico e sem comprovação de eficiência.


Já Paula Assis acha que está na hora de resgatar o trabalho de formação política, porque, segundo ela, “falta consciência de classe na população”. Paula resumiu o livro ‘Confissões de um assassino econômico’, de John Perkins, para explicar o seu sentimento com relação ao momento político nacional. O livro discorre sobre um projeto internacional de submissão das economias consideradas periféricas pelos Estados Unidos desde os anos 1960, visando a consolidação de um império estadunidense e a apropriação das riquezas desses países.


Histórico de luta - “Quantas águas atravessamos para chegar até aqui. Quantas pernas de Rio percorremos?...”, indagou Vilma Reis, que destacou a importância de participar das eleições, considerando que o exercício do voto foi vetado durante muitos anos no Brasil. Ela lembrou a fala da deputada estadual Érica Malunguinho, eleita por 525 municípios de São Paulo, para dizer que “a gente não precisa de um partido negro porque todos os partidos que estão aí foram construídos por nós, população negra". Completou ainda: “Somos parlamentares das lutas que nos elegem”, ao falar sobre pautas defendidas pelo Quilombo Socialista.


A candidata disse que tem interesse em reconstituir o Incra (Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária) e a Funai (Fundação Nacional do Índio), órgãos responsáveis pela titulação de terras quilombolas e indígenas, pela execução da reforma agrária e o ordenamento fundiário. Ela defendeu também a retomada das políticas sociais e dos órgãos ambientais e disse que não concorda com a militarização das escolas e que precisa haver discussões mais horizontais sobre o fechamento de escolas. Segundo Vilma Reis, 82% do lixo reciclável é retirado das ruas por catadoras/es desse tipo de material. “Quem reconhece esses agentes importantes para o meio ambiente?”, criticou.


“Estou aqui para lutar pela legitimidade das nossas causas”, declarou Elaine Novaes, da Associação de Resistência Negra e Quilombola de Rio de Contas. Ela contou o embate recente que travou com o IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística) para que o órgão requalificasse os seus recenseadores para a coleta de informações específicas sobre a comunidade quilombola, principalmente os urbanos.


“Nós, da Associação, oficiamos a coordenação do IBGE e tivemos que acompanhar as equipes deles nas entrevistas para garantir a coleta correta dos dados”, declarou, com reforço de Lindaura, com quem enfrentou o problema. O Censo 2022 é o primeiro a contabilizar as comunidades quilombolas. De acordo com o IBGE, estão sendo considerados na pesquisa os territórios delimitados pelo Incra e pelos institutos estaduais de terra. Também foram mapeados os agrupamentos identificados pelo IBGE e outras localidades não definidas em setores censitários que vieram a constituir áreas quilombolas. Somadas as fontes o Instituto chegou a 5.972 localidades no Brasil.


Amola Faca – O presidente da Associação Quilombola de Amola Faca, Luiz Antônio, destacou o orgulho de ter a história da comunidade documentada e de receber a candidata Vilma Reis pessoalmente. “A fotografia do congresso não nos favorece. Conheci Vilma e me encantei com a possibilidade de votar em uma mulher negra que nos representa”, afirmou, por sua vez, Luzimar Rocha Oliveira. Foi nessa comunidade que Vilma Reis entregou livros à jovem secretária da Associação, Beatriz Souza Cruz, 18 anos, para que ela iniciasse uma sala de leitura no quilombo. Beatriz, está se preparando para o Enem com apoio de outros jovens universitários da comunidade, com quem desenvolve atividades educativas e de formação quilombola com as crianças e adolescentes do quilombo.


“Nossas candidaturas são desobediência ao racismo”, declarou Vilma Reis, que condenou a decisão do poder local de fechar a escola quilombola de Corta Faca sem consultar a comunidade que, legalmente, deve obrigatoriamente, ser ouvida sobre o tema. Amola Faca é uma comunidade remanescente de quilombo com 39 famílias, autodeclada pela Fundação Cultural Palmares desde 2013, mas precisa ser titulada.


Na periferia da cidade de Livramento de Nossa Senhora, Vilma Reis destacou a advogada Vera Lúcia Santana Araújo, um dos quatro nomes indicados para a lista tríplice na disputa de uma vaga a Ministra do Supremo Tribunal Eleitoral (STE). Nascida em Livramento, Vera Lúcia declarou que havia reconhecimento do seu merecimento, mas “o inusitado é ser negra”. “Não fosse o racismo, ela teria se tornado ministra este ano, afirmou a candidata. Ela falou da importância de estar ali, naquele bairro, afirmando: “a gente é diferente, faz questão de ir nos lugares, olhar nos olhos das pessoas, porque precisamos acreditar em nós mesmas”, falou, lembrando as ancestrais em sua vida. “A minha avó nasceu dentro de um engenho, em 1911, e me disse sempre, de várias formas, que era preciso superar a discriminação contra nós negras/os pobres, que até hoje é extremamente violenta”, afirmou.


A última parada foi no Quilombo da Rocinha, onde as mulheres organizaram uma roda de conversa para fortalecer a candidatura de Vilma Reis. O encontro foi organizado pela Associação Quilombola da Rocinha, cuja comunidade cultiva manga e agricultura de subsistência.


VR_Bg-Amarelo.png

Acompanhe a nossa campanha nas redes sociais

  • Instagram
  • Facebook
  • TikTok
  • Twitter
  • Youtube

Comitê Central: Rua Conselheiro Junqueira Ayres, n°26, Barris (Salvador) CEP 40070-080
Na ladeira que dá  acesso ao Shopping Piedade, próximo à Biblioteca Central

bottom of page