Elaine Borges se inspira em Vilma Reis e declara voto por se reconhecer na candidata
Mestranda do PPGCS da UFRB, Elaine Borges foi premiada com a Menção Honrosa da Reunião Brasileira de Antropologia, com artigo que discute as dimensões de raça/cor, classe social e orientação sexual na homossexualidade feminina
“Eu voto em Vilma Reis, primeiramente, pela visão, pelo olhar que ela tem sobre essa população sapatão, e por ela ser sapatão e uma mulher negra. Me sinto representada nela também pela sua trajetória e por ela ser das Ciências Sociais. Então, ver Vilma nesse espaço de poder me inspira e me permite pensar: ‘poxa, eu posso chegar lá’”.
A declaração de voto é da jovem Elaine Borges, 26 anos, mestranda do Programa de Pós-Graduação em Ciências Sociais (PPGCS), da Universidade Federal do Recôncavo da Bahia (UFRB). Elaine foi premiada com Menção Honrosa na 2ª edição do Prêmio Lélia Gonzalez, categoria Artigos de Graduação, da 33ª Reunião Brasileira de Antropologia (RBA). Essa edição da reunião foi realizada entre 28 de agosto e 03 de setembro deste ano, sob o título ‘Defender direitos e fazer antropologia em tempos extremos’.
“Foi uma conquista prazerosa, muito feliz e, como sempre falo, uma conquista minha, mas eu não ando só. Trago na minha escrita muitas mulheres negras, lésbicas, muitas mulheres do feminismo negro, do feminismo lésbico”, declarou a jovem, que apresentou para a RBA um artigo intitulado “Branca é lésbica e preta é sapatona. Oh o erro?!: um estudo sobre mulheres negras sapatonas de um bairro de Salvador-BA”. O texto deriva do seu trabalho de conclusão da graduação, sob o título ‘Não te criei pra isso’.
“Um dia, eu estava debatendo sobre questões familiares, sobre aceitação ou rejeição de mulheres lésbicas negras, do bairro de Pernambués, e elas trouxeram para mim um processo de identidade em conjunto com esse debate sobre a família”, explicou. De acordo com a pesquisadora, as entrevistadas se identificavam mais com a denominação ‘sapatão’ do que com a terminologia ‘lésbica’ para definir sua homossexualidade. Foi quando ela se deu conta da importância do debate e decidiu o título do trabalho, que discorre acerca das dimensões de raça/cor, classe social e orientação sexual na homossexualidade feminina.
“Tudo começou quando uma das interlocutoras estava tensionando de como para mulheres lésbicas negras, que ela entende como sapatona, existe uma diferença no tratamento por conta da questão racial”, afirmou Borges. Segundo a mestranda, em sua fala a interlocutora dizia que para as mulheres brancas, mesmo sendo lésbicas e sofrendo lesbofobia, existia um outro tipo de processo em que elas entendiam que havia uma aceitação melhor da sua orientação sexual. “Elas trazem ‘pô, mas eu uso sapatão!’, ressalva e explica que o termo sapatão, antes usado para subjugar, colocar em condição de subalternidade, usado como xingamento, passou por uma ressignificação e ocupa agora um contexto positivo, em que as mulheres negras assim tratadas se aceitam, se colocam nesse lugar.
“É um pouco sobre isso o artigo que premiado. Falo sobre esse processo de trajetória enquanto mulher lésbica, negra, porque eu também me coloco no meu trabalho, enquanto parte, mas também enquanto uma pesquisadora que vem analisando esses contextos que têm muita importância para mim, socialmente”, concluiu.